O contralto mais pop de nossa MPB atual lançou recentemente seu mais novo trabalho, "Tomada". Dessa vez, Filipe Catto usa a música como arma favorável a uma fase lírica mais explícita das paixões mal resolvidas (tema recorrente em todo o disco), mas sem se permitir sentir o choque dos 220V que voz, instrumental e poesia poderiam provocar.
O "início do cabo" que liga o artista à tomada é Dias e Noites, primeiro single do novo álbum e bem aceito entre o público cativo do artista, entretanto, não chegou a ser uma baita surpresa que alcançasse novos ouvintes e despertasse a curiosidade para o disco. Tal fato pode ser o resultado de uma faixa boa, mas, sem o tempero que faltava.
Letra e instrumental construíram um bom casamento no melhor estilo Catto de fazer, mas sem muitas surpresas:
Letra e instrumental construíram um bom casamento no melhor estilo Catto de fazer, mas sem muitas surpresas:
Já que amanhã serão dias e noites
De tantos instantes iguais
Que tal calar agora e assistir
A cidade ao redor, inteira despertar
Apagar as pistas e seguir?
De tantos instantes iguais
Que tal calar agora e assistir
A cidade ao redor, inteira despertar
Apagar as pistas e seguir?
O disco segue com Partiu, faixa que ganha um pouco mais de dinamismo sonoro com a presença mais marcante de uma percussão diferenciada e elementos melódicos ao fundo que preenchem possíveis vazios. Merece destaque também pela montagem lírica do tema existencial:
Juntos na virada
Quentinhos no iglu
Soltos no Esplanada
Chapados com o azul
Com você formou
A liga das nações
Pra libertar os povos
Dos nossos corações
Quentinhos no iglu
Soltos no Esplanada
Chapados com o azul
Com você formou
A liga das nações
Pra libertar os povos
Dos nossos corações
Um pouco mais a frente no cabo rumo ao conector encontramos Canção e Silêncio, com uma sensibilidade minimamente tropicalista e um coro que fez toda a diferença nos pré-refrões e refrões da música. A poesia permanece em reflexões sobre um amor mal resolvido e as formas de lidar com essa situação:
Não vou lhe implorar piedade, não vou te escrever poemas
Não, eu já tranquei as portas e você nem se importa
Quer saber? Eu já chorei até demais por você.
Não, eu já tranquei as portas e você nem se importa
Quer saber? Eu já chorei até demais por você.
Repentinamente o cabo alcança fios mais consistentes para que seu conector final à tomada seja como deve ser. Uma virada rítmica e melódica chama a atenção do ouvinte já acostumado com o que disco propunha até então, ao chegar em Um Milhão de Novas Palavras. Desta vez o tema central não se priva no romantismo e as palavras escolhidas para a poesia ganham um tom mais amplo. Uma guitarra forte e solada acompanha a voz inigualável de Filipe no que pode ser considerado um desabafo musical de observações diárias dos casos recentes da influência política em questões sociais ligadas à sexualidade e identidade de gênero:
Os homens no poder vão classificar
O teu corpo, teu lugar, tua cara
Lições de amor igual, quem precisará
Olhos tantos, grande irmão, ache graça
O teu corpo, teu lugar, tua cara
Lições de amor igual, quem precisará
Olhos tantos, grande irmão, ache graça
Íris e Arco é mais um acerto; Letra bem alinhada narra um quase sutil dilema com o corpo e a censura sobre o mesmo. Assim, sustenta a vibração tão tipicamente brasileira de percussão, guitarra e strings que compõem uma melodia misteriosa e instigante. Uma delícia sonora que também funcionaria muito bem em versão instrumental:
No corpo, ilusão
Tenho dúvida, então
Nunca vou despertar
Tenho dúvida, então
Nunca vou despertar
A penúltima faixa, mas que ainda não chega a ser o conector (este ficou sob a responsabilidade de Adorador), é Pra Você Me Ouvir. O coro de fundo volta, a guitarra forte também e ambos somam-se a uma bateria mais rock que contrasta com a beleza e delicadeza que a voz de Catto insere com a letra mais sensual de um álbum predominantemente romântico:
Eu te quero um tiro em cheio
Todo de uma vez
Se você quiser me amar
Uma prova do teu gosto
Mesmo com bons acertos ao final do disco, a introdução morosa pode facilmente esconder o que de bom há nas últimas faixas. Dotado de uma voz rara e de uma expressão romântica tão rara quanto, Filipe Catto podia, munido de uma musicalidade inquestionável, ter feito de Tomada um marco na carreira e até mesmo um dos melhores álbuns de 2015. Entretanto, ficamos na torcida por grandes experiências ao vivo em sua turnê!
Todo de uma vez
Se você quiser me amar
Uma prova do teu gosto
Mesmo com bons acertos ao final do disco, a introdução morosa pode facilmente esconder o que de bom há nas últimas faixas. Dotado de uma voz rara e de uma expressão romântica tão rara quanto, Filipe Catto podia, munido de uma musicalidade inquestionável, ter feito de Tomada um marco na carreira e até mesmo um dos melhores álbuns de 2015. Entretanto, ficamos na torcida por grandes experiências ao vivo em sua turnê!
Nível de órbita: 6.
Quer sentir se é 110 ou 220V? Teste aqui.
Quer sentir se é 110 ou 220V? Teste aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário