terça-feira, 21 de julho de 2015

De asas abertas, Gadú poetiza o livre refletir em "Guelã"

De asas abertas, Gadú se permite a uma reflexão livre e natural.


Em aproximação lenta, Maria Gadú inicia o álbum Guelã com a faixa introdutória Suspiro. Calma e suave, sua melodia transcende o sentir simples da faixa e nos leva a intuitivamente fechar os olhos e se lançar ao ar tranquilo de sua poesia. Violão se achega como um amigo que vem para participar da roda dos poetas contemporâneos, trovando:

  Tá bom
Tantos cantos nas quinas
Dobrei tantas esquinas
E já me perdoei por ter mais
Que eu mesma
Quando era criança
Tanto a fada madrinha
Quanto nada fizeram sonhar

Na mesma roda, a brasilidade toma conta em Obloco, uma manifestação cheia de percussões e guitarra mais rock n' roll em uma ode pela heterogeneidade que a acompanha a roda em sua procissão:

Quando eu lançar meu bloco
O bloco dos sem medo
Um bloco happy
Um bloco crente
Um bloco black
Um bloco free

Em chamas ingênuas de paixão e encanto, como um Rei Salomão, a poetisa pede o auxílio de uma guitarra singela e singular para encher sua musa de elogios e ode à beleza da mulher em Ela:

Ele veste uma túnica cor de lugares sagrados
E segreda em silêncio cansaço pra mais solidão
E canta, canta, canta
Eu não vejo mais meus músculos de ferro
Penso nela como um raio de emoção
Paralela a toda feminilidade

Insistindo docemente em suas referências rock, a poetisa segue em Semi-Voz, mais marcada e em canto mais firme, não perde a delicadeza ao falar com bem mais do que sua semi-voz:

Vou viver contigo a vida inteira
Enquanto o tempo for o nosso aliado de casal feliz
E sempre amortizar nossas indiscrições
Devo crer

Trovoa é um belíssimo poema de Maurício Pereira, incrivelmente musicalizado pela poetisa Gadú, que deu a ele um tom único e emocionante. Em seus cinco minutos, a faixa é uma escolha em cheio para prosseguir com o álbum mais poetizado da carreira da cantora.

Sakédu, instrumental, faz uma ponte para os últimos três poemas antes de seu epílogo, e é sucedida por Tecnopapiro, uma comparação entre os meios de comunicação antigos e atuais, onde uma mãe é o pano de fundo para a observação analítica e reflexiva do eu-lírico:

Cadê mãe?
Aquela Barsa que atirou em mim
O monstro alado da história sem fim
Um telegrama pro e-mail errado
Fudeu, né?
Vou te ligar de dentro do avião
Pra te dizer que o meu velho pião
Tecnoroda nos meus sonhos antigos

Sua devoção à simplicidade e naturalidade das coisas continua em , essa com referências mais fortes do estilo mais popular da artista. Em Vaga, uma reflexão sobre inspiração e relação consigo mesmo, com destaque para as cordas adicionadas na faixa que rende um toque diferente e mais sentimental a um dos poemas mais bem arranjadas do disco. 

O álbum termina com Aquária, como uma conclusão à primeira faixa, ainda calmamente empolgante e certeira. É a calmaria reinando na paz do ser.


Nível de órbita: 10.

Para se inspirar, ouça aqui.

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