A capa do disco "A Praia" (2015)
Cícero é um moço fino, de voz sutil, que faz de sua poesia uma melodia e compartilha com o mundo suas experimentações desde 2011, quando lançou o primeiro e atraente disco de sua carreira, “Canções de Apartamento”. Após “Sábado” (2013), o carioca volta com 10 faixas inéditas em “A Praia”.
De cara o disco começa com a quadrada batida da bateria em “Frevo Por Acaso N°2”, proposta sonora muito claramente justificada quando a poesia surge como um relato da vida cinza urbana já encrustada:
“Papéis, documentos, velhas normas de comportamento
Na rotina de sol e cimento amanhecemos”
Um início um tanto sombrio, mas sem perder a
delicadeza do moço.
Na faixa-título, “A Praia”, Cícero abre de vez a porta de seu apartamento e começa seu show intimista para quem o ouve. Aposta em toques leves e mais alegres que relaxam os ouvidos e as emoções de quem o escuta, ofertando ainda seus versos romantizados de alguém que se deixa levar por outro alguém a uma vida com menos regras, imposições, e mais desafios...
Na faixa-título, “A Praia”, Cícero abre de vez a porta de seu apartamento e começa seu show intimista para quem o ouve. Aposta em toques leves e mais alegres que relaxam os ouvidos e as emoções de quem o escuta, ofertando ainda seus versos romantizados de alguém que se deixa levar por outro alguém a uma vida com menos regras, imposições, e mais desafios...
“Ela me tirou de casa
E me levou na praia
Tinha um tempo que eu não ria cedo”
Uma característica do Cícero é tratar de suas pautas com uma cautela muito bem pensada. Na faixa seguinte, “Camomila”, ele faz jus ao título e, calmamente, presenteia os tradicionalistas e acomodados com uma crítica à falta de incentivo aos sonhos infanto-juvenis e as novas ideias que surgem todos os dias:
“ – Nada vai mudar o são.
- disse o velho louco pro menino bobo cheio de ilusão”
Ainda sem muitas surpresas em relação a seus outros trabalhos, o disco segue com “De Passagem”, um poema sobre a euforia ao se deparar com o amor que acalenta seus dias cinza urbanos e a coragem que tira desse sentimento para ir em frente:
“O mundo dela lançando doçura
Na amargura do meu”
Seu amor-guia continua a impulsionar seus passos na areia dessa praia salvadora em “O Bobo”, que tira o homem-pomba desse seu estado e o torna homem-bio no que deveria ser seu habitat natural.
“Eu vou lá
Pro dia desanuviar
Lá vem lá vem lá vem a paz”
“Soneto de Santa Cruz” é, com poucos segundos de execução, a melhor composição do disco. Tanto pelos seus efeitos de vozes fundas que dão o toque mais melancólico para acompanhar sua letra, quanto pela letra em si que cruamente expressa a dor de um dia comum e a estranheza que se tem quando esse dia é vivido
“Choveu o dia inteiro lá em casa
Não teve som de obra
Não teve sol na sala”
“Isabel (Carta de Um Pai Aflito)” parece uma súplica familiar a uma rebelde sem causa em atividade. Em poucos versos, Cícero deixa nas entrelinhas a superficialidade da falsa beleza jovem em “aproveitar a vida como se não houvesse amanhã”, entregando-se a prazeres e experiências momentâneas mas sem força para marcar ou transformar suas vidas. Triste é saber que tais gestos são uma ingênua busca por felicidade e refúgio da vida cinza urbana...
“Isabel anima qualquer coisa pra sair de casa... pra rodar na rua...
Pode ser um dia ruim”
“Albatroz” fala por si mesma e sua audição é mais que obrigatória.
Nosso homem moderno descansa em um travesseiro de angústias.
Depois de “Cecília & A Máquina”, uma breve ponte de esperança para o fim do disco, Cícero encerra o café com prosa em seu apartamento com “Terminal Alvorada”, um contraste cheio de violinos em relação a primeira faixa do disco, num tom nostálgico e afetivo com a praia e seu papel de escape da vida urbana. Um fio de esperança em versos que definem sua sensação ao fim dessa jornada:
“Faz um tempo, eu não sei o que é saudade”.
Nível de órbita: 7.
Se a rotina e o caos urbano também lhe cansam, vale baixar o disco gratuitamente pelo próprio site do cantor, clicando aqui.
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