quarta-feira, 24 de junho de 2015

A ascensão de Florence + The Machine para a era Big, Blue e Beautiful

Capa do álbum "How Big, How Blue, How Beautiful"


Florence Welch, seguida pelos seus discípulos da The Machine apresentam, após a iniciação cerimonial em Ceremonials (2011), o paraíso espetacular de How Big, How Blue, How Beautiful.

Já de início o disco mostra sua proposta mais empolgante e viva, em comparação com os anteriores, com a faixa de abertura (e terceiro single), Ship To Wreck. Com um som mais orgânico e mais próximo da fórmula pop indie, a faixa inicia uma jornada nos questionamentos e análises de si mesmo ao observar o outro:

Meu amor, me lembre, o que foi mesmo que eu disse?
Eu bebi demais?
Estou perdendo contato?
Eu construí esse barco para ele naufragar?

E com uma melancolia empolgante a faixa dá uma pequena amostra do que o novo disco propõe, desta vez recheado de metais, mas sem esquecer seus coros e sonoridade cósmica.

What Kind of Man, com uma pegada mais rock/blues (forte marca da banda) grita aos quatro ventos uma ode ao amor doído e, ao mesmo tempo, fortemente desejado

E com um beijo
Você acendeu um faísca de devoção que durou 20 anos
Que tipo de homem ama assim?

Além da emoção lírica, a faixa ainda apresenta de vez a introdução dos metais no som da banda e começa a dar sinais de um arranjo de glória e ascensão ao céu, mais perceptiva ainda na faixa seguinte.

How Big, How Blue, How Beautiful, faixa-título, começa suave e gradualmente ganha força, com a sensação de guerra vencida, narra a vitória mesmo entre o desespero e a visão embaraçada da situação:

Nós abrimos nossos olhos e a visão está mudando
Oh, o que vamos fazer?
Nós abrimos a porta, agora está tudo vindo através dela

Como é grande, como é azul, como é bonito

O vislumbre com a visão celestial leva os discípulos da The Machine a uma nova cerimônia, desta vez não de esperança, mas de realização. O disco segue com nuances de memórias e vivências, como em Queens of Peace:

Oh, o rei
Ficou louco de tanto sofrer
Gritou por alívio
Alguém o cure de sua dor

Memórias de um líder em luta consigo mesmo e com seu povo, cego pela dor, mas ainda em atividade pelo feixe de esperança que carrega. A faixa trás de volta o emocionante violino da banda, cercado pela nova sonoridade celestial e uma forte percussão de acompanhamento por toda a canção.

Tempos depois da vibração da nova era de paz celestial, a banda chega ao ápice do louvor com Third Eye, outra faixa que merece destaque pela sua força lírica, instrumental e humana:

Ei, olhe para cima
Você não tem que ser um fantasma
Aqui entre os vivos
Você é carne e sangue
E você merece ser amado
E você merece o que lhe é dado
E oh, quanto!

Em voz forte e alta, rodeada por um coro melódico e toda a banda em constante crescimento instrumental, a música é o ponto épico do disco, verdadeira trilha sonora para a ascensão dos vitoriosos.

Uma lembrança mais sombria e maternal é expressa em Mother, penúltima faixa do disco, ainda mais rock do que as demais, com a presença de guitarras mais marcantes e uma conversa entre o eu lírico, Deus e a mãe:

Mãe, faça-me
Faça-me uma grande nuvem cinza
Então poderei chover em você coisas que eu não posso dizer em voz alta

A faixa encerra-se com gosto de quero mais em um coro crescente de dor e desabafo. As angústias e sensações presas e reprimidas são todas libertas através da voz.

Ainda com algumas bônus track, o disco leva o ouvinte a uma outra dimensão, anos-luz acima de nós, numa tentativa bem sucedida de tocar e dar voz ao espírito, sempre com metáforas sentimentais do carnal e psíquico, marca de escrita de muita admiração de Welch. Sem dúvidas, uma obra prima e já um dos melhores álbuns de 2015, com sua força de libertação e vitória. Uma ascensão da música aos céus.


Nível de órbita: 10.

Para elevar seu espírito, ouça o disco aqui

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