segunda-feira, 18 de abril de 2016

Um bilhão de novas possibilidades no álbum de estreia do duo Bilhão


Cariocas, Felipe Velloso e Gabriel Luz lançaram este mês seu primeiro álbum de estreia homônimo. Bilhão, disco e duo, são uma nova versão de novas possibilidades sonoras entre a MPB, Pop e Rock. Com várias influências internacionais e nacionais, de artistas que vem mesclando gêneros distintos e criando texturas que exemplificam nossa contemporaneidade, o álbum de estreia é uma deliciosa novidade de 2016.

A primeira faixa, Atlântico Lunar, trás mais forte as influências pop e rock. O tom "mpbístico" está no timbre de voz calmo, melodia singela mas com leve rudez que diferencia a "meiguice" do gênero e começa a caracterizar o duo. A faixa é singela, com bateria simples, uma guitarra swingada e uma tonalidade pacífica, um ar de praia, luau, reunião de amigos e amores frescos. As efemeridades urbanas dão a tônica às metáforas construídas logo na primeira faixa, e que são um belo cartão de visita para as demais.

A lentidão do corpo só
Uma figura incerta
A velocidade não te alcança do metrô
O retrato que ficou e que se vedou olhar
Me mostrou que o tempo passa
Gordo e devagar

Em seguida vem Três da Tarde, cuja harmonia nos primeiros segundos da música trazem exatamente essa sensação de horário. Seguindo a mesma construção melódica da faixa anterior, a letra é mais uma poesia e dessa vez disserta sobre observações dos "socos frios" do dia a dia, mesclando ao sentimentalismo cósmico do artista cheio de cores à dar pro mundo tentando se desvincilhar em meio ao cinza que o encobre e mancha. 

Eu não sei, mas ás vezes vivo a sonhar
Às três da tarde, nada me parece real.
Essa luz que vem do mar, que faz os meus olhos fechar,
É brisa e sal
São gotas pelo ar.

Tô Pra Ver O Tempo é mais calma e pode ser considerada a primeira MPB do disco. Violão arpejado é a construção de um clima entre o outono e a primavera, e as considerações sobre o tempo. Em um bilhão de segundos, tudo parece nada, nada parece tudo, e a gente sequer nota quando se passaram 1 ou 1 bilhão de segundos.

Tô pra ver o tempo
Se perder a cada instante
O corpo segue em movimento
E cada segundo parece imenso

Esse mirante no monte
Um pedaço sem fim
O cais no mar que secou
A linha que cruza o norte
Deixou metade de mim
Metade evaporou.

Segundo Plano dá uma nostalgia do rock brasileiro do início dos anos 2000, com os acústicos produzidos pela extinta MTV Brasil do Capital Inicial, Kid Abelha entre outros, e a inserção de bandas como Los Hermanos em nosso cenário musical. Essa nostalgia vem repaginada à caráter de 2016 com leves tensões mais descaradas na guitarra marcada e intensa, mas ainda com a sutileza da voz e a letra dos resguardos humanos, do esconder-se de si mesmo e dos outros, gesto tão comum e bem aceito atualmente. E como não lembrar-se do mesmo tema comentado de forma mais divertida na música Quatro Vezes Você, do já citado Capital Inicial? (O que você faz quando/Ninguém te vê fazendo/Ou o que você queria fazer/Se ninguém pudesse te ver?)

No clarão não se pode ver tudo
O que vai no peito, o segundo plano.

Mar de Vapor está mais próxima do que os artistas da chamada Nova MPB realizam hoje, como Silva, Cícero, Marcelo Jeneci entre outros. É possível notar um traço comum entre estes músicos e Bilhão, e o resultado é mais uma ótima canção:

Vem pra cá, eu quero me aproximar
Pra desvendar o que é longe
Onde você esconde esse jeito de ser

Em que lugares você anda?
Em que praias você nada?
Em que lugares você nada?
Em que praias você anda?

Horizontalidade tem uma pegada praia no frio logo pela manhã e é mais uma canção romântica. Das faixas até então, é a que tem mais mistura das diversas influências possíveis do duo. 

Para alcançar o sonho
Basta uma noite e um luar

O álbum termina na 7ª faixa, The Effect, faixa inglês sem mais surpresas ou experimentos, mesmo assim, uma boa escolha para fim do disco, mesmo deixando gosto de quero mais. 

Em suma, um belo álbum para dar início do projeto da dupla, e com gana para se transformar cada vez mais e ganhar novas texturas à música brasileira.

Nível de Órbita: 10,0.


Para entender e descobrir, ouça aqui .

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