quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Qual o seu rolê com a Tereza ao som de "Pra Onde A Gente Vai"?



Os cariocas Mateus Sanches, João Volpi, Sávio Azambuja, Rodrigo Martins e Vinícius Louzada formam a irreverente banda Tereza. Depois do bem recebido "Vem Ser Artista Aqui Fora" (2013), os caras se reuniram para o lançamento do segundo álbum de estúdio, "Pra Onde A Gente Vai", firmando mais um lado pop, dançante e bem humorado em todas as faixas, causando o efeito catártico de uma tarde de sol em Ipanema, avistando quem vem e quem vai com os amigos de adolescência.

A primeira faixa, homônima, começa com uma bateria eletrônica e uma batida tipicamente pop no violão, o que poderia marcar uma trilha inteiramente já conhecida em tantas outras músicas por aí, se não fosse a inclusão de um assobio logo nos primeiros segundos, antes do primeiro verso. Uma verdadeira introdução ao disco, a faixa já mostra a proposta de bem estar e reflexões sutis num clima agradável e ensolarado à beira da praia. É esse o cenário ao longo do disco. E se você se identifica, pra onde ir depois?

Pra onde a gente vai, vai, vai
Por que você não vem também?
Pelo nosso bem, meu bem,
Pela minha paz... Vai, vai?!
 ( ;) )

Em seguida, a mais dançante de todo o disco: Pistão.
Em clima de paquera na praia, ou mera contemplação semi-poética de banhistas esculturais, a música tem guitarras batidas com uma possível referência dos franceses do Daft Punk (grande influência na música pop/eletro de todo o mundo). É festiva, é dançante, é Tereza:

Eu que nasci tão livre e solto
Fico preso ao seu corpo
Vou voando até você.( :p )

Intrusa segue a mesma linha rítmica e estrutural da anterior, mas com uma letra mais pessoal e informal. Destaque para o solo de sax:

Sempre me senti um pouco intruso
Fazendo de tudo pra você me notar
Começo a gaguejar e você insinua
Que eu não faço nada e nunca vou te pegar.
( :( )

Seria Tão Bom faz comparações e súplicas existenciais a despeito da vida urbana em grandes cidades. É hora do almoço e a praia ta menos agitada, momento de reflexões um pouco mais intimistas. Acompanha um coco gelado?

Seria tão bom
Falar o que eu quiser
Nunca perder a fé
E andar mais alto
Sem deixar de guardar
Tudo de bom que o dia tem pra te dar

Tara de Bicho talvez seja a maior ousadia da banda (ou sinceridade sem pudor?)
Com a galera de volta do almoço, agora com algumas cervejas compartilhadas entre os amigos, piadas vespertinas sobre quem vem e quem vai:

O dia com você na praia,
Tem gosto de mamão papaia.

DJ tá mais pra trilha do pôr-do-sol. Levemente densa em sua estrutura instrumental, trás de volta o lado mais rock da banda no refrão. Guitarras mais fortes e refrão mais marcado palavra por palavra, faz uma breve reflexão sobre as noites jovens cariocas e sua essência:

Antes da noite acabar, fitou,
Era pra brilhar mas entortou.
Agora o mundo vai girar; rodou.
Nem vai se lembrar do que brotou.

Não Sei, primeiro single oficial, volta ao bom humor predominante do disco e da banda, e trás o clima de esquenta da noite na praia:

Eu sei você fala como eu deveria ser
Me esquece, não é difícil de entender.
Que eu me sinto um escroto,
Na mesma cama que você.
Quero sair daqui
Eu cansei de mentir.
Fingir que sou alguém que não sou.

Nos Deixem Em Paz faz menção sonora aos habituais luaus à beira-mar. Violão tranquilo e palmas na segunda estrofe acompanham uma letra simples e melodia calma. O desejo inquietante de liberdade, foco do primeiro disco da banda, volta a dar as caras nessa faixa:

Sempre fingindo estar tão feliz.
Sempre sorrindo estão por triz.
Hey! Nos deixem em paz!
Somos animais, sabemos morder.
Hey! Somos marginais!
Eventuais "foras da lei". 

A penúltima faixa, Eu Não Vou Mais Ligar, por trás do bom humor e das piadas por trás de uma paquera supostamente mal sucedida, traça uma breve narrativa sobre a superficialidade das relações das noites jovens e a incessante tentativa dos mais tímidos e quietos em tentarem se encaixarem no "movimento ideal de prazer". Destaque para o acerto nos coros das estrofes, que causam a sensação de um grupo de amigos conversando casualmente:

Todo mané quando arrumar uma mulher,
Vai encontrar um dilema:
Não tem treino, sabe como é,
E elas tem armado o esquema.

Nikity City, a trilha da volta pra casa, é singela mas ainda com sintetizadores protagonizando. Um bom desfecho com tema simplista interpessoal, contraste e sintonia com as demais faixas do disco. Participação do rapper De Leve:

Nem sempre me espere
Trabalho até tarde, amor.
Tristinho, te peço espaço no cobertor,
Nem sempre normal, nós somos mais um casal.
(...)
De volta pra casa,
Eu vou de volta pra casa.
E não me deixe esquecer de onde sou.

Um disco com a cara do verão e lançado em época inteiramente propícia.
Um acerto da banda em marcar seu território como um grupo irreverente e pop, mas sem perder características da música brasileira; Pontos pela boa mescla.

Em contrapartida, poucas surpresas e amadurecimento musical em relação ao disco anterior, algo de se esperar de uma banda que trouxe um estilo próprio, novo, e com força para ser disseminado, mesmo em épocas difíceis para as formações tradicionais do baixo, vocal, guitarra e bateria.
Ainda assim, merece ser tocado nas baladas de todo o país, bem como os shows merecem ser prestigiados pelos veteranos e novatos fãs da banda. Sem dúvida o efeito catártico sentido ao ouvir o disco será ainda maior ao vivo e à cores.


Nível de Órbita: 8,0


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